Trechos do Artigo do Blog do Professor Rafael Porcari. Leia o texto completo: – Hoje começa a Campanha da Fraternidade!
“Fraternidade e Diálogo, Compromisso de Amor” e “Cristo é a nossa paz. Do que era dividido, fez uma unidade.” (Ef 2,14ª).
Compartilho um texto muito bom do Padre Patriky Samuel Batista…
CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA 2021
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O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo. ” (Bento XVI – mensagem para o período quaresmal de 2011)
Um coração que se converte está disposto a amar e servir como Cristo nos ensinou. Sobretudo os mais pobres e que se encontram nas periferias existências e geográficas. Um amor ousado e criativo que rompe com o egoísmo e a indiferença. Viver fraternalmente é um precioso exercício para naturalizar a caridade em nossas ações.
A caridade cristã, resposta de uma vida impelida pelo amor de Cristo, nos leva a amar o bem comum e a buscar eficazmente o bem de toda pessoa, considerando-a também em sua dimensão social. Assim, assumir e viver a Campanha da Fraternidade é abraçar mais uma oportunidade para vivermos o amor como serviço ao próximo e a fé como missão. É se envolver com cada pessoa que encontramos no caminho. É agir como o Bom Samaritano: ver, compadecer, cuidar …. e dialogar!
Em 2021 viveremos a 57ª edição da Campanha da Fraternidade. O grande tema que nos é proposto é o diálogo. Dialogar como compromisso de amor. Inseridos num cenário marcado por polarizações, ódios, ausência de escuta, individualismos imperialistas e indiferença, somos convidados a recuperar nossa capacidade de relação, tolerância, amorosidade e fraternidade. Edificar um novo humanismo alicerçado na ética cristã. Não podemos permanecer indiferentes a esta realidade que banaliza a vida, gera conflitos, violências, discriminações e radicalizações.
O que vem acontecendo conosco que já não conseguimos dialogar como antes? O que foi feito da cordialidade, acolhida e gentileza? Qual a diferença entre uma simples conversa, uma discussão e o diálogo propriamente dito? Como anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo em tempos tão turbulentos como o atual? Provocações que nos fazem pensar e nos estimulam a encontrar caminhos de superação desta realidade, à luz da fé.
A Campanha da Fraternidade surge como ocasião preciosa para redescobrir a força e a beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas, promovendo a convivência fraterna e a alegria do encontro como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções, em um mundo cada vez mais plural. É preciso reaprender a dialogar!
Segundo afirma o Papa Francisco, “aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isso se resume no verbo dialogar. Para nos encontrarmos e ajudarmos mutuamente, precisamos dialogar. ” (FT 198). Não conseguiremos avançar neste horizonte se não assumirmos o diálogo como compromisso de amor.
Dialogar supõe a redescoberta do valor e da beleza do outro. Requer escuta, paciência, decisão e disposição. É um processo com ritmo próprio que visa a compreensão do outro. Por essa razão, no diálogo, não há vencedores e vencidos. Não há uma palavra que prevalece, mas palavras que desencadeiam processos de conhecimento. Isso não significa acolher como dogma a verdade do outro, mas sim, respeitá-lo e com ele compartilhar o que compreendemos da vida, do mundo e de toda teia de relações que nos envolvem.
O diálogo deve proporcionar uma mútua compreensão que visa a boa convivência, a superação dos conflitos tornando-se caminho para a construção da paz e da civilização do amor. Dialogar é conviver. Supõe convívio. É processo onde, aos poucos, compartilhamos o sentido e os significados que atribuímos a situações, acontecimentos. É conhecer a visão de mundo do outro e também saborear a sua presença como pessoa única no mundo. Compreender o outro e perceber os pontos em comum que nos unem. Ele não simplesmente cria conexão; ele a releva demonstrando que existem mais coisas que nos unem do que aquilo que nos separa. Por esta razão, sem escuta, paciência, tempo, coração dedicado não existe diálogo.
Viveremos a Campanha da Fraternidade de 2021 em comunhão com diversas comunidades de fé. Esta será a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE). As Igrejas membros do CONIC assumem esse compromisso de levar adiante o objetivo geral da CFE: convidar as comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade. Sem dúvidas, o diálogo e a convivência fraterna é o nosso melhor testemunho.
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A Campanha da Fraternidade Ecumênica nos convida a destruição dos muros que nos separam. Não somente eliminar os muros, mas também abrir mão dos entulhos que podem ser instrumentos de violência quando trocamos acusações e ofensas. Quando não ouvimos e cuidamos de cada pessoa como irmãos e irmãs. Não é suficiente destruir os muros. É preciso ser construtor de pontes, elo de comunhão, promotores da cultura do encontro e da fraternidade.
Inspiradora é a narrativa dos discípulos a caminho de Emaús, descrita pelo evangelista São Lucas. O diálogo não se restringe à duas pessoas. Aqueles dois, mesmo tento participado de todos os acontecimentos da paixão e morte de Jesus Cristos, sozinhos, não são capazes de avançar na compreensão dos fatos. É preciso redescobrir o olhar da fé. O ressuscitado poderia ter se revelado de imediato, assim que chega para participar daquela conversa do caminho. Mesmo sendo evidente as dúvidas e questionamentos, aquele que vence a morte também vence a pressa pondo-se a caminhar com eles.
Talvez tenhamos aqui alguns passos para reaprendermos a dialogar: viver a iniciativa de ir ao encontro sem medo de quem está com dúvida, aproximar-se, entrar na conversa, caminha juntos, ajudar na compreensão da vida e das escrituras, fazer o coração arder, acolher o convite para adentrar a casa do outro (chão sagrado sob o qual devemos retirar as sandálias Ex 3,5), sentar-se à mesa, e, nos gestos de partilha, encontrar aquele que dá sentido à vida.
Assim, percorrido tal itinerário ainda precisamos de algo a mais: voltar à comunidade, ao encontro daqueles que, encerrados no medo de anunciar, estão à espera daquele diálogo que aquece o coração, promove a unidade e envia em missão.
Somos imagem e semelhança de um Deus que dialoga, que é em si mesmo perfeita relação de amor trinitário. Como diria Futon Shen: “Se no amor tu me procurares a mim somente, não encontrarás nada: mas se através de mim procurares a Deus, encontrarás tudo, uma vez que, repito, é necessário sermos três para amarmos: tu, eu e Deus. ”
Fraternidade e diálogo, compromisso de amor. Que possamos abrir os corações a essa temática inaugurando processos dialogais com a partir de nossas escolhas e empenho evangelizador. Que a quaresma de 2021 nos ajude no caminho de conversão que nos coloque no caminho da partilha, da solidariedade, assumindo o diálogo como estilo de vida de quem ama, tal como Cristo nos ama.