Texto extraído do livro: Mulheres que correm com os lobos. p. 406
A raiva legítima
Ofereça a outra face, ou seja, ficar calada diante da injustiça ou da desconsideração, é uma atitude a ser avaliada com muito cuidado.
É uma coisa usar a resistência passiva como arma política da forma que Gandhi ensinou multidões a fazer;
já é bem diferente o fato de a mulher ser incentivada ou forçada a se calar para poder sobreviver a uma situação insuportável de poder corrupto ou injusto na família, na comunidade ou no mundo.
As mulheres nesse caso são isoladas da natureza selvagem, e seu silêncio não é de serenidade, mas representa uma enorme defesa para não sofrer violência.
É um erro que os outros considerem que, só porque a mulher está calada, isso quer dizer que ela aprova a vida que leva.
Existem ocasiões em que se torna imperioso liberar uma raiva que abale os céus. Existe a ocasião — muito embora ela seja rara, um dia decididamente ela aparece — para se liberar todo o poder de fogo que se tem.
É preciso que seja em reação a alguma ofensa grave, que tenha peso e ataque a alma ou o espírito.
Todos os outros caminhos razoáveis para a mudança devem ser tentados primeiro.
Se eles fracassarem, teremos de escolher a hora certa.
Existe sem a menor dúvida a hora adequada para soltar a raiva a todo vapor.
Quando as mulheres prestam atenção ao self instintivo, como o homem na história que se segue, elas sabem quando chegou a hora. Intuitivamente, elas sabem e agem de acordo. E isso é certo. Certíssimo.
Esta história vem do Oriente Médio. Versões dela são contadas pelos sufis, budistas e hindus. Ela pertence à categoria da história que trata da realização do ato proibido ou censurado com o objetivo de redimir a sua vida.
