Ele estava programado para subir até as nuvens de cores lilás, até a entrada da casa do sol.
Texto sem cor, sem linha tênue, sem sentimentos, achismos, divindades, poesias ou flores.
Texto sem nada, vazio, só um texto e algumas estrofes.
Preparei uma escada de cetim. Trancei com renda e pérolas, estava pronta para subir com os versos.
Levaria a lua comigo, teríamos um encontro íntimo no cosmo, conversas despidas, corpos flutuando.
Estrelas, virariam testemunhas e juízas. Não sei qual roubaria.
Não sei dizer, se seríamos réus condenados ou cometas estacionados na atmosfera. Quem sabe, aguardando o próximo embarque. Libertos?
O texto não irá subir. Tem mais uns quatro programados para Setembro. Nada sublime. Nada aromatizado.
Deixo abaixo, o poema do Fernando Pessoa, já havia lido, e reli nessa última, segunda-feira.
Entre a árvore e o fio, peguei emprestado o intervalo de Deus.
O barco sabe, para qual lado, rio flui.
Se encontrar o sonho, talvez, devolva o gládio.
Bom Setembro.
Por Fernando Pessoa
Braço sem corpo brandindo um gládio
Entre a árvore e o vê-la
Onde está o sonho?
Que arco da ponte mais vela
Deus?… E eu fico tristonho
Por não saber se a curva da ponte
É a curva do horizonte…
Entre o que vive e a vida
Para que lado corre o rio?
Árvore de folhas vestida —
Entre isso e Árvore há fio?
Pombas voando — o pombal
Está-lhes sempre à direita, ou é real?
Deus é um grande Intervalo,
Mas entre quê e quê?…
Entre o que digo e o que calo
Existo? Quem é que me vê?
Erro-me… E o pombal elevado
Está em torno na pomba, ou de lado?