Desfazendo a parede, arrumando malas. Um quadro a menos, dez cúmplices no lixo.
Foram centenas de fotografias, três toneladas de roupas inúteis, outro quarto de pensamentos, pessoas, outrora conhecidas.
Madrugadas longas, e a casa fica mais vazia. O eco aumenta, o ouvir não cessa, a sensação, confirma.
As paredes estão frias, não consegue dormir. Ora aquece na febre, ora congela no edredom.
As cores já não equilibram mais, desgastam a energia, trazem melancólicos sentimentos, consomem a paz.
Cores que permitiram curas, renovavam dias, agora, requerem a paleta e novos pincéis.
Fome, em refazer cada parede, arrancar o mundo e as poesias, desfazer tudo que deu origem, e voltar pra escrita original.
Enjoa da água, do café, do almoço,
como grávida aguardando o nascer da vida.
Esvazia a mente, na tentativa falida do ser, desabafa o choro no queimar da vela.
Sente tudo, e ouve tudo fora do corpo.
Experiências ainda não conhecidas na prática. O experienciar consome até o último suspiro na presença, e uma sensação de leveza e cansaço.
Como quem ouve a deusa, limpa a casa, os cômodos, e a aura…
Procura a cuia pra desenvolver o banho, mas, as louças já não existem, desde o último mês, a primogênita quebrara todos utensílios de vidros, espelhos, copos, pratos, etc.
Se cortou em todas os acidentes.
Em outros tempos causara espanto, receio, preocupação, mas, compreende exatamente o que ocorre.
Por hora, burla o isolamento, e a barreira sanitária para providenciar as compras, agora, em acrílicos, chega de sangue.
Não tem mais vela pra nenhum dia, imagina pra sete, e ele quer para um mês.
As ervas sustentam, envolvem.
Cada gota no corpo, um expulsar,
cada partícula escorrendo, uma cicatriz fechada.
Cada suor que vaporiza, um canto de acalento, cada fio de cabelo no chão, uma lágrima seca.
Emoldura a presença no topo.
Ficarás ali, olhando, observando, projetando em silêncio, tudo que a mente acha que sabe, e tudo que no espírito, tem certeza.
Gratidão ao Senhor, meu Deus!